Eu comecei esse texto antes do natal- na intenção de terminá-lo ainda em dezembro- não assisti a retrospectiva de 2024 e só agora, 16 de janeiro de 2025, é que estou no quase, aquele: “calma que tá saindo”. Coincidência ou não, o dia em que Trump toma posse com seus discursos transfóbicos e o anúncio da saída dos EUA do acordo de Paris, sobre as mudanças climáticas. Elon Musk faz sinal nazista e nosso governador, no auge de seu patriotismo, vomita no X palavras como "Grande dia" e com G maiúsculo.
Eita, que início de ano! Eu sei, eu sei, já estamos em março- agora eu termino.
De fevereiro para cá, tivemos o carnaval e suas máscaras de Fernanda Torres, não preciso nem me prolongar, né? “A vida presta”, meus amigos e o cinema nacional também- muito antes do famigerado Oscar confirmar isso.
Essa grande teia de conexão, que são as redes sociais, nos acostumou com um novo tipo de amigos, os virtuais. De repente você se identifica com alguém que é amigo do amigo, do amigo, mas que compartilha dos mesmos ideais que você e... dá -lhe coraçõezinhos. O meu tipo de amigo virtual é aquele gente boa, camarada, sabe? Que entende sobre o MST e faz posts engraçados do tipo considerar uma falha na Matrix do capitalismo o fato de em pleno final de 2024 estar provando o tal do café gourmet do Starbucks pela primeira vez. E é claro, a outra metade das minhas interações são com os meus alunos. “Ah, mas porque você não deveria aceitá-los”. Taí dois bons exemplos de como não ceder às pressões sociais.
Esses dias assisti a um desses cortes de vídeos onde a cantora Ana Carolina lia uma carta para sua amiga, já falecida, a grande Cássia Eller, que dizia mais ou menos assim:
-Abre aspas – Querida, Cássia!
Você detestaria esse mundo, está muito chato. As músicas diminuíram significativamente e duram no máximo dois minutos, a internet entrou em nossas vidas, os algoritmos em nossa intimidade. Ficamos mais conectados, mais rápidos, mais harmonizados, mais siliconados, com lentes não só nos olhos, mas nos dentes. O implante capilar é legal. Estamos cada vez mais conectados, mas sozinhos. Fecha aspas.
Seria Cássia uma sortuda?
A parte mais difícil de encontrar a verdade é aceitá-la. Pois bem, chupa essa manga, agora a respeito do “boom” tecnológico que tanto se fala. Ao perguntar aos meus alunos- esse público jovenzinho que já nasceu na era digital, também conhecidos como geração Z/ Alpha- qual o seu maior medo, a maioria respondeu prontamente: ser esquecido/ não ser lembrado. Juntamente com a fatídica e já esperada-por mim- conclusão de que se você não tem aquela rede social da moda, você não existe. Como os especialistas apontam, há uma nova subjetividade, uma tendência narcísica onde existir é ser visto, na qual você literalmente depende do olhar do outro mesmo não tendo controle de tal projeção. É engraçado porque até usar a palavra “moda” já se tornou obsoleta, ou melhor, cringe, segundo uma aluna de 11 anos.
René Descartes dizia que se retirada a memória das pessoas, elas não saberiam nem voltar para casa e que o maior problema da humanidade é andar por aí e achar que existe, percebe? Se pensarmos que cada vez mais a tecnologia está usando nossa memória e substituindo-a, que não decoramos mais número de telefone, CPF e mais mil reticências de cérebro fritando.
Estamos deixando de existir? Então a grande revolução tecnológica que temíamos em meados dos anos 2000 já vem acontecendo?
Eu quero os carros voadores dos Jetsons!
...” No fundo, todos aguardam o fim do mundo”.
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