Neste versículo, Jesus descreve um dos aspectos fundamentais do caráter dos cidadãos do Seu Reino. Ele afirma que aqueles que têm fome e sede de justiça são bem-aventurados, ou seja, são verdadeiramente felizes, porque serão satisfeitos. Mas que tipo de alimento é esse que devemos desejar com tanta intensidade?
Um dos primeiros sinais de que um bebê está saudável é a fome. Deus nos criou com esse instinto porque ele é essencial para nossa sobrevivência. Assim como o desejo por comida e bebida é fundamental para nossa existência física, o desejo por justiça também deveria ser algo básico e constante na vida do filho de Deus.
Um exemplo perfeito de como esse desejo pela justiça de Deus deve guiar nossa vida é o próprio Jesus. Em João 4:32, quando Ele fala sobre Sua missão e propósito, Ele diz: "Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra." Jesus estava dizendo que Sua motivação, Seu maior desejo e Seu sustento estavam em cumprir a vontade de Deus. Assim como a comida sustenta nosso corpo, a vontade de Deus e a busca por Sua justiça sustentavam a vida de Jesus.
Essa declaração de Jesus se aplica diretamente à nossa busca pela justiça divina. Quando desejamos viver de acordo com os padrões de Deus, a nossa fome e sede de justiça devem ser como o alimento espiritual que nos sustenta. Repare que um dos sinais mais evidentes de que algo não vai bem com a nossa saúde é quando perdemos a vontade de comer. Quando estamos doentes, frequentemente perdemos o apetite. O corpo, em estado debilitado, já não tem os mesmos desejos naturais de se alimentar, e isso pode ser um reflexo de que algo está fora de equilíbrio.
Da mesma forma, na vida espiritual, a falta de fome e sede pela justiça de Deus muitas vezes é um sinal de que há algo de errado em nosso estado espiritual. Se, como filhos de Deus, não sentimos mais o desejo por aquilo que é reto aos olhos de Deus, se não buscamos mais a Sua Palavra, a Sua justiça e a Sua presença, pode ser um indício de que estamos espiritualmente enfraquecidos ou doentes.
Agora, um ponto importante a se perguntar é: a justiça que Jesus mencionou é a mesma justiça na visão humana?
A palavra "justiça" não se refere à justiça no sentido de leis humanas ou sistemas jurídicos, nem a algo que se limita a ações ou movimentos sociais. Embora os cristãos ao longo da história tenham sido responsáveis por muitas boas obras sociais, como vemos no exemplo de John Wesley, que lutou bravamente pela abolição da escravidão, ou William Wilberforce, um líder cristão britânico fundamental para a aprovação da Lei de Abolição da Escravatura em 1833, e Martin Luther King Jr., pastor batista que liderou o movimento pelos direitos civis nos EUA, essas ações, embora extremamente positivas, não são o tipo de justiça que Jesus está descrevendo no texto.
A palavra "justiça" aqui se refere não apenas à legalidade ou justiça em termos humanos, mas à retidão de Deus, àquilo que é correto segundo os Seus padrões. A justiça que Jesus descreve está relacionada a uma conduta moral que se alinha com a vontade de Deus, ou seja, um comportamento que é caracterizado pela retidão. Isso implica um desejo profundo e constante de buscar aquilo que é correto aos olhos de Deus, não aos olhos do homem ou dos padrões do mundo. como está escrito em Mateus 6:33 – "Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Essa justiça está diretamente alinhada com o reino de Deus. Também em 1 João 3:10, o apóstolo João diz: "Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão." Aqui, João nos ensina que, ao nascer de Deus, passamos a buscar e praticar a justiça divina como um reflexo dessa nova natureza que queremos viver por causa de Cristo. Isso não significa que sejamos perfeitos, mas que há uma mudança interna em nós, um anseio por aquilo que é reto aos olhos de Deus, isso é uma característica dos Seus filhos.
A Promessa de Sermos Saciados
Olhando para a promessa vemos: “porque eles serão fartos”. É importante entender que essa promessa de satisfação não significa que toda injustiça sofrida neste mundo será automaticamente corrigida aqui e agora. Jesus não está prometendo que, toda vez que formos tratados injustamente, seremos imediatamente compensados de maneira visível ou tangível. Não se trata de uma retribuição imediata pelas injustiças que enfrentamos, mas de uma certeza de que, no tempo de Deus, Ele corrigirá todas as injustiças de acordo com os Seus planos. Enquanto vivemos neste mundo, experimentaremos injustiça em diversas formas e não estaremos imunes a essas dificuldades. Mas os bem-aventurados são aqueles que, mesmo diante de tais injustiças, mantêm o desejo pela justiça de Deus, confiando que, no final, Deus fará Justiça.
E isso será plenamente satisfeito no futuro, no Reino de Deus, que nos é dado por intermédio de Cristo. A justiça será plenamente estabelecida na nova terra e no novo céu, como vemos em 2 Pedro 3:13: "Mas, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habitará a justiça."
A promessa de que seremos fartos de justiça não está limitada a este mundo, mas aponta para o futuro, para a plenitude do Reino de Deus, quando Ele restaurará todas as coisas. Podemos, sim, partir deste mundo sem ver a compensação das injustiças que sofremos, pois essa não foi a promessa de Jesus. O apóstolo Paulo, ciente disso, diz em em Romanos 8:18, "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente (isso inclui injustiças) não podem ser comparados com a glória que em nós há de ser revelada."
Portanto, o verdadeiro filho de Deus, que anseia pela justiça de Deus, sabe que sua fome e sede serão satisfeitas no Reino eterno, onde habitará a justiça perfeita. Nosso coração deve estar voltado para esse futuro glorioso, e isso deve nos dar força para perseverar nas adversidades e nos mantermos firmes na busca pela justiça, mesmo quando ela parecer distante ou impossível neste mundo.
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