Depois do tarifaço imposto por Donald Trump, que tudo indica entrará em vigor a partir de 1º de agosto, esta semana ainda trouxe novas ameaças de sanções por parte dos norte-americanos. O escritório do USTR (Representante Comercial dos Estados Unidos), sob ordens diretas do presidente Trump, iniciou uma investigação sobre práticas comerciais e decisões políticas brasileiras que, segundo o órgão, prejudicam os Estados Unidos. Entre os alvos estão: o comércio digital e os serviços de pagamento eletrônico, incluindo o Pix, acusado de prejudicar empresas americanas do setor; a fiscalização anticorrupção, que, segundo o governo Trump, é ineficaz no Brasil; a proteção da propriedade intelectual, com alegações de que o Brasil não fiscaliza adequadamente os direitos autorais sobre produtos americanos, fomentando a pirataria; e o desmatamento ilegal, que segundo os EUA prejudica a competitividade de produtores americanos de madeira e produtos agrícolas. Outras questões apontadas incluem tarifas consideradas injustas, acordos preferenciais com outros países, e o tratamento dado ao etanol americano.
Coincidentemente, na mesma semana em que novas sanções foram anunciadas pelo governo Trump, o ministro Alexandre de Moraes determinou ações da Polícia Federal e medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre as medidas estão o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de acesso às redes sociais, e até a restrição de contato com seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que tem participado de reuniões com membros do governo Trump e colaborado diretamente com a imposição de sanções ao Brasil.
Essa decisão do STF já era esperada, uma vez que o mundo assistia à família Bolsonaro articulando manobras que colocavam os interesses do país em segundo plano, tudo em nome de um suposto "preço amargo pela liberdade". Enquanto isso, o governo brasileiro, que claramente não possui força econômica para enfrentar os EUA, parecia disposto a provocar o governo Trump com propostas como o fim da dolarização. Trump, por sua vez, usando a narrativa de que Bolsonaro era vítima de uma "caça às bruxas", respondeu de forma contundente: revogou os vistos de entrada nos EUA de Alexandre de Moraes e de outros sete ministros do STF.
A esta altura, Donald Trump parece pouco preocupado com o que é ou não justo, ou se suas decisões fazem ou não sentido. Seu foco está, exclusivamente, nos interesses dos EUA. A carta enviada ao Brasil deixa claro o objetivo de controlar as empresas brasileiras em solo americano — a situação de Bolsonaro, no fundo, é apenas conversa pra boi dormir.
Enquanto isso, o governo brasileiro, que vinha enfrentando forte queda na aprovação popular, vê na retórica de defesa da soberania nacional uma oportunidade de reverter esse cenário. A questão que fica é: quem é mais ingênuo? O eleitor que acredita que as tarifas, o desemprego, a violência e a fome são um “preço necessário” pela liberdade? Ou aquele que aposta em um governo que não consegue alinhar executivo, legislativo e judiciário, mas que promete enfrentar a maior potência do planeta em nome da soberania?
Enquanto isso, 1º de agosto está logo ali — e a diplomacia parece ter sido substituída pelo simbolismo ideológico de ambos os lados.
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