Texto base: Mateus 5:3 – “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.”

O ser humano é obcecado pelo prazer. A todo momento, estamos buscando um gole de prazer. A grande questão que deveríamos discutir é: onde está o prazer? Não é errado buscar prazer, ter sede de prazer, ter fome de felicidade; a questão é: onde está a felicidade? Deus nos criou para a felicidade e para o prazer. O grande projeto de Deus é que você seja feliz. Mas precisamos compreender que o fim principal do homem é glorificar a Deus. A grande questão é que o homem está se satisfazendo em um prazer extremamente limitado e raso, enquanto o Senhor criou o homem para o maior dos prazeres, que é conhecer, ter intimidade e desfrutar de Deus.

A verdadeira felicidade está baseada no "ser" e não no "ter". Agora, vamos fixar nossa atenção no texto e entender o que Jesus está dizendo: “Bem-aventurados os pobres de espírito”. O que é isso? O que Jesus quis dizer com isso? Para uma boa lógica de argumentação, devemos refletir primeiro sobre o que não significa ser pobre de espírito, para depois compreendermos o aspecto positivo.

1. Ser pobre de espírito não significa pobreza financeira: Por muitos anos, em determinado momento da história, a igreja acreditou nisso, e muitos fizeram voto de pobreza para cumprir essa bem-aventurança. No entanto, certamente não é isso que Jesus está dizendo. Encontramos diversos exemplos na Bíblia incentivando a igreja a ajudar os que estão em dificuldades financeiras, a sermos generosos e a cuidarmos do órfão e da viúva. Um jovem rico, em um momento, se encontra com Jesus e pergunta: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”. Jesus responde: “Obedeça aos mandamentos”. O jovem afirma já praticá-los, e Jesus diz que, se ele quiser ser perfeito, deve doar todas as suas riquezas aos pobres e seguir a Cristo (Mateus 19:16-30). O que Jesus estava fazendo?

Ele estava estimulando o jovem a doar todos os seus bens aos pobres para privá-los de uma bem-aventurança? Claro que não! Há uma pobreza que é má, quando é fruto da preguiça. Portanto, podemos concluir que não era isso que Jesus estava falando, pois a pobreza não é um bem, e a riqueza, em si, não é um mal.

2. Ser pobre de espírito não significa ter uma vida espiritualmente pobre: Jesus não está falando que bem-aventurados são aqueles que têm uma vida espiritual pobre; pobre em  amor, pobre em fé, pobre em esperança, pobre em pureza ou pobre em obediência. Absolutamente não é isso.

3. Ser pobre de espírito não significa ter baixa autoestima: Jesus não está dizendo que as pessoas que pensam menos de si mesmas são felizes. A baixa autoestima é um mal, e não um bem. Jesus não está dizendo que felizes são os fracos, tímidos ou covardes. Certamente não é isso.

Agora, vamos olhar o aspecto positivo:

1. Ser pobre de espírito é a base para todas as virtudes espirituais: Charles Spurgeon disse que ser pobre de espírito é o primeiro degrau da escada das bem-aventuranças; não podemos subir uma escada a partir do décimo degrau, precisamos começar do chão. Essa é a base, pois se uma pessoa não for pobre de espírito, ela jamais chorará pelos seus pecados, jamais será mansa, jamais terá fome e sede de justiça, jamais terá um coração puro, nem será pacificadora. Nós não podemos ser cheios de Deus sem primeiro estarmos vazios de nós mesmos. A primeira coisa que precisa existir para um homem ser feliz é esvaziar-se de si mesmo. Você não pode ser pleno de Deus se estiver cheio de si mesmo, se estiver imbuído de vaidade ou dominado pela arrogância e autossuficiência.

2. Ser pobre de espírito é reconhecer nossa total dependência de Deus: No grego do Novo Testamento, temos duas principais palavras para entender a dimensão da pobreza. A primeira é πένης (pénēs): Esta palavra é usada com menos frequência no Novo Testamento e refere-se a alguém que é pobre, mas não na miséria absoluta. O termo descreve uma pessoa que tem o mínimo necessário para sobreviver, mas que ainda precisa trabalhar arduamente para sustentar sua vida. A segunda é πτωχός (ptochós), demonstra não apenas a posição do homem na sociedade, mas também sua situação diante de Deus, pois nada tem para oferecer a Ele; ou seja, um pobre indiferente aos bens deste mundo, impotente e mendigo. Essa é a palavra que Jesus usa. O que Jesus estava dizendo é que aquele que chega diante de Deus sem qualquer vaidade, arrogância ou mérito, sem qualquer obra ou reivindicação, mas apenas clamando: “Deus, tem misericórdia de mim, um pecador!”, esse sim é bem-aventurado. Enquanto o homem não tiver essa consciência de que é totalmente carente de Deus, que não tem mérito algum, nada a exigir, ele não pode ser feliz.

Conclusão:

A nossa felicidade será completa quando tomarmos posse definitiva do Reino no futuro. Se já somos felizes agora, eu digo que seremos muito mais na volta do nosso Senhor. E essa felicidade é maior do que todos os reinos, pois não é um reino conquistado com guerra ou derramamento de sangue, já que o próprio Senhor não é um homem, mas o próprio Deus. O Reino do qual somos herdeiros é superior a todos os reinos da Terra, pois ele nunca acabará. Por mais que existam ou venham a existir grandes nações, elas são como palha diante do Reino dos Céus, pois não são eternas. Os reinos deste mundo caem; onde está o Egito, a Assíria, a Babilônia, o Império Medo-Persa, Roma? Caíram! Mas o Reino de Deus permanecerá para sempre, e você é herdeiro desse Reino. Por isso, termino perguntando: você tem andado de modo digno como cidadão desse Reino? O seu coração já está vazio de toda vaidade? Quando Jesus pregou essa verdade, não foram os fariseus que abraçaram essa mensagem. Eles tinham muitas virtudes e estavam encantados com suas obras. Quem recebeu primeiro essa mensagem foram os publicanos, os pecadores, pois não tinham nada para oferecer. Chegaram carentes, quebrados e vazios, suplicando misericórdia.

"Bem-aventurados os humildes de espírito, pois deles é o Reino dos Céus."