"Eu não levo desaforo para casa", "Quem com ferro fere, com ferro será ferido", "Bateu, levou." Você já ouviu alguma dessas expressões? Provavelmente, em algum momento de nossas vidas, já falamos algo semelhante. A paz é um dos maiores reflexos do caráter de Deus, e os pacificadores têm a honra de serem chamados filhos de Deus.
Jesus, ao falar sobre a paz, estava citando uma característica dele mesmo, como já havia sido profetizado pelo profeta Isaías: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Ele é o Príncipe da Paz, Ele é a própria Paz, e os pacificadores têm a honra de serem chamados filhos de Deus.
Na tradição judaica, o povo judeu era chamado "filhos de Deus" devido à sua etnia e linhagem com o patriarca Abraão. Isso não deixa de ser verdade, pois o Antigo Testamento está repleto de promessas de Deus para os filhos de Israel, promessas que apontam para a paternidade de Deus para com a nação de Israel. Porém, Jesus nos ensina que ser um filho de Deus não é apenas uma questão de descendência natural, mas de uma transformação interna para refletir o caráter de Deus em nossas vidas. Mas o que, de fato, é essa paz mencionada no texto?
Não é paz a qualquer preço: A paz que Jesus menciona não significa a ausência total de conflitos, como muitos podem pensar, pois há momentos em que os conflitos são necessários. É equivocado o entendimento de que um pacificador é alguém que nunca entra em conflitos. Jesus declarou: "Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar a separação entre o homem e seu pai, entre a filha e sua mãe, entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os de sua própria casa (Matheus 10:34-39)." Aqui parece algo contraditório: Como o príncipe da paz, não veio trazer a paz, e sim a espada? Jesus em sua missão de estabelecer a verdadeira paz poderia gerar conflitos, pois a paz verdadeira nem sempre é bem recebida em um mundo dominado pelo pecado.
Não é eficácia nos resultados: Ser pacificador não significa sempre ter êxito nos resultados da paz que está sendo buscada. O homem em Cristo irá até onde for necessário para manter uma relação harmoniosa com todos os homens. Contudo, é inevitável que nem sempre isso ocorrerá, pois o verdadeiro evangelho traz divisões tanto quanto une, tornando os conflitos, mais cedo ou mais tarde, inevitáveis. O apóstolo Paulo nos diz em Romanos 12:18:
"Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens."
O uso de "se possível" indica que essa harmonia nem sempre será alcançada. Já a expressão "quanto depender de vós" mostra que, quando houver divergências (como quase inevitavelmente acontecerá), a provocação não deve partir do lado cristão.
Levando isso em consideração, como poderíamos praticar essa paz? Como ser pacificador no dia a dia?
A natureza de um filho é imitar o seu pai. Vemos que uma criança, de forma praticamente involuntária, sempre acaba imitando seus pais, seja na forma de falar, no comportamento ou até nas características de personalidade. O apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 5:18-19, diz: "Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação; a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões e nos confiou a palavra da reconciliação." Da mesma forma, como filhos de Deus e imitadores de Cristo, somos chamados a promover a paz e a reconciliação no mundo, buscando resolver conflitos e restaurar relacionamentos quebrados, assim como Jesus fez entre Deus e os homens. Talvez você deve estar se perguntando: Mas por que eu iria ser pacificador? Você não sabe como me ofenderam... Tem gente que não merece!.
Bem, primeiramente, como já vimos, devemos buscar ser pacificadores porque somos filhos de Deus. Jesus Cristo gerou a paz entre Deus e os homens (Efésios 2:14-16, 2 Coríntios 5:18-19), da mesma forma, devemos buscar exercer essa paz no mundo, no que estiver ao nosso alcance. Caso nossa atitude seja contrária a isso, isso evidencia que não somos filhos de Deus, e, portanto, não somos herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, estando, assim, separados de toda a Sua herança. Que o Senhor nos livre de agir dessa maneira.
Outro ponto importante é compreender que, se não formos pacificadores, Deus não aceitará nossas ofertas. Como cristãos nascidos de novo, é comum buscarmos oferecer ao Senhor nosso tempo, ministério e até mesmo nossos bens. Contudo, muitas vezes, por dureza de coração ou negligência, deixamos de acertar as contas com o próximo. E o Senhor nos alerta sobre isso em Mateus 5:23-24:
"Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta."
É fundamental entender que a reconciliação e a paz que buscamos realizar são passos necessários não apenas para restaurar nossas relações com os outros, mas também para manter nossa comunhão com Deus, e assim, recebermos a promessa que nos foi dada.
A promessa é ser chamado filhos de Deus
É importante entendermos que não nos tornamos filhos de Deus por sermos pacificadores, mas somos pacificadores por sermos filhos de Deus. Essa promessa se refere não apenas em ser reconhecido aqui na terra como filho de Deus, mas de ser reconhecido como filho de Deus pelo o próprio pai, no dia do julgamento. Como já vimos em Romanos 8:17:
"Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo...’’
Em outra passagem, o apóstolo Paulo confirma que fomos predestinados para nos tornarmos à imagem do próprio Filho de Deus. Nós seremos o que Jesus se tornou, não mais nesta realidade carnal que vivemos, mas com um corpo glorificado, conforme Romanos 8:29:
"Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos."
Jesus é o Príncipe da Paz, e como filhos de Deus, somos chamados a imitar Seu exemplo de pacificação no mundo. Assim, nosso papel como filhos de Deus é ser instrumentos de paz, buscando restaurar relacionamentos e promover a paz entre as pessoas. Embora não possamos controlar as reações dos outros, temos a responsabilidade de agir com integridade e refletir a paz de Cristo em nossas atitudes diárias. Que a nossa vida, como discípulos de Cristo, seja marcada pela paz que vem de Deus. E ao vivermos como pacificadores, que possamos ser verdadeiramente chamados filhos de Deus, participando de Sua herança e refletindo Sua glória no mundo.
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