Todo clássico carrega uma dose de imprevisibilidade. Mas há um tipo específico de clássico onde a imprevisibilidade já virou previsível e tem endereço certo: Corinthians x Palmeiras. Ou melhor dizendo, Palmeiras x Corinthians. Porque é quase sempre o Palmeiras quem chama o que eles chamando de “defunto” pra dança. O Palestra tem um talento especial: trazer a normalidade ao Corinthians.
O Palmeiras tem uma mania estranha. Uma compulsão quase afetiva. Diante do Corinthians mais bagunçado, mais desacreditado… ele não só tropeça, como abre caminho pra ressurreição. É como se fosse pago, por contrato, pra manter o rival vivo. E não qualquer vida: vida com plot twist, com glória e com tapa na cara da lógica, estilo José Martinez.
Ano passado, o Corinthians flertava com o rebaixamento, afundado numa crise política inédita, com o presidente prestes a responder na Justiça, oposição pedindo cabeça, base implodida, e torcida cobrando como deve. Estava morto, segundo os rivais. Ninguém duvidava. Até o dia em que Itaquera se encheu pra um clássico que parecia protocolar. E o Palmeiras, como bom roteirista dessa história, decidiu soprar o último fôlego a um Corinthians sufocado.
Então, como num script que se repete com fidelidade irritante para o lado alviverde, veio o clássico. Corinthians e Palmeiras, Itaquera, pressão máxima. E o que aconteceu? Dois a zero para o Timão. Golaço, alívio, grito preso na garganta explodindo em arquibancada. E, mais do que isso, uma virada de chave.
A partir dali, o Corinthians emendou uma sequência de vitórias no Campeonato Brasileiro que parecia ficção científica. Não só escapou do rebaixamento, como garantiu vaga na Copa do Brasil e na Libertadores de 2025. Justamente a vaga que o colocaria, meses depois, no caminho do mesmo Palmeiras e, de novo, pra eliminar o rival.
O roteiro ficou ainda mais cruel para os palestrinos quando, já em 2025, o Corinthians, ainda sob escombros administrativos, com diretoria tampando buracos com pano de chão, conquista o Campeonato Paulista. E contra quem? Já sabe. O destino, parece, tem um senso de humor peculiar quando se trata desse derby.
É preciso entender: o Corinthians não é movido por organização exemplar. Não vive de estrutura, nem de bons exemplos de gestão. Não depende de fases boas pra ser perigoso. O Corinthians é, por natureza, o time do caos. E é justamente aí que mora sua força. O problema, para os rivais, é achar que o Corinthians precisa de respeito externo para funcionar. Não precisa. Nunca precisou.
O Corinthians só precisa de si. De sua camisa pesada, de sua torcida que canta mesmo sem saber por quê, de sua história recheada de absurdos que, no fim, sempre fazem sentido. A mística corinthiana não se mede por lógica. Se sente na pele.
E o Palmeiras, meus trutas, parece ainda não ter aprendido. Continua achando que o adversário em frangalhos é uma presa fácil. Entra em campo com a empáfia de quem vai atropelar e sai de campo com a cara de quem ressuscitou mais um.
A história recente está aí, gritando. Em dois anos consecutivos, o Corinthians, mesmo em crises técnicas, institucionais ou financeiras, fez do clássico o seu ponto de virada. E o Palmeiras? Fez papel de coadjuvante num roteiro que nunca escreveu, mas insiste em protagonizar a própria queda.
No fim das contas, o Corinthians é isso: um clube que não precisa ser entendido. E talvez essa seja a maior vantagem. Porque enquanto os outros tentam explicar o inexplicável, o Corinthians volta, vira, cresce. E ganha.
Talvez seja hora do Palmeiras marcar outro clássico no calendário: com a humildade. Porque essa mania de ressuscitar o Corinthians já está virando epidemia.
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