O Brasil está entrando na reta final de mais um ano pré-eleitoral. Faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2026, este é o momento em que ministros do Poder Executivo já começam a pensar em abrir mão de seus cargos para se dedicarem a campanhas eleitorais, visando ocupar cadeiras na Câmara dos Deputados, no Senado ou até mesmo no governo de algum estado.
No entanto, considerando o cenário político efervescente que o Brasil vive atualmente, percebemos que o Poder Executivo anda mais perdido que azeitona na boca de banguelo. O que se desenha é, supostamente, um dos confrontos mais interessantes dos últimos anos: a luta de classes.
O presidente Lula, junto com seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, decidiu que seria necessário aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), com o argumento de equilibrar a carga tributária entre ricos e pobres. Segundo eles, historicamente, os pobres pagam proporcionalmente mais impostos do que os ricos. No entanto, ao enviar essa proposta ao Congresso, o Legislativo rapidamente vetou o aumento do imposto — o que deu início a uma nova crise entre os poderes.
Diante da negativa, o governo iniciou uma campanha de polarização social, divulgando vídeos gerados por inteligência artificial em que congressistas apareciam trajando ternos alinhados, tomando vinho e praticamente chamando o povo — que financia tudo — de otário. A mensagem implícita era de que o Congresso não se importa com os pobres e serve apenas aos interesses de empresários e bilionários.
O Congresso reagiu, alegando que não tolerará mais aumentos de impostos sem que o governo corte gastos. Acusou ainda o Executivo de usar as redes sociais para fomentar a divisão social. O governo, por sua vez, argumenta que tem autonomia constitucional para alterar as alíquotas do IOF e recorreu ao Supremo Tribunal Federal. O ministro relator, Alexandre de Moraes, suspendeu todas as decisões sobre o IOF e convocou uma audiência de conciliação — como quem diz: “Eu não tenho nada a ver com isso. Vocês que se entendam”.
Com toda essa confusão, há alguns pontos que merecem reflexão.
O primeiro é que, como promessa de campanha, o presidente Lula afirmou que, se eleito, acabaria imediatamente com o orçamento secreto e derrubaria esse mecanismo que dava tanto poder ao Legislativo. No entanto, o que vimos foi o oposto: o presidente parece ter ido a uma autopeça, comprado duas turbinas e turbinar o motor do orçamento secreto. Resultado: um Congresso batendo recorde atrás de recorde em liberação de emendas parlamentares com dinheiro público.
É verdade também que Lula prometeu “colocar o pobre no orçamento e o rico no Imposto de Renda”. Mas precisamos entender que o aumento do IOF não significa exatamente isso. Esse imposto afeta todas as classes sociais — no financiamento de veículos, no uso do cartão de crédito e nos preços dos produtos no mercado. Ou seja, vemos um governo tentando, no último ano de mandato, evitar fechar as contas no vermelho, vendendo uma narrativa que não se sustenta completamente.
Por outro lado, o Congresso já demonstrou há tempos que não se importa com os pobres. Além das emendas parlamentares em níveis recordes, trata-se do segundo Congresso mais caro do mundo. A nova moda inclui maquiadores como assessores, implantes capilares, harmonização facial e ternos impecáveis. Além de caro, é um Congresso cada vez mais vaidoso. E o detalhe mais revoltante: os próprios parlamentares aprovam aumento de seus salários — pagos com o seu dinheiro, leitor. Parece piada, mas não é.
Portanto, meus amigos, nem o Poder Executivo nem o Legislativo estão, de fato, preocupados com o pobre. Eles só lembram dos pobres em época de eleição. E, para encerrar, deixo uma dica cultural: uma canção atemporal de 1992 que parece ter sido composta ontem "Presidente Caô Caô", de Bezerra da Silva:
"... ele subiu o morro sem gravata
Dizendo que gostava da raça
Foi lá na tendinha, bebeu cachaça
Até bagulho fumou
Jantou no meu barracão e lá usou
Lata de goiabada como prato
Eu logo percebi: é mais um candidato
Para a próxima eleição..."
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