No início, usei "surpreendidos" entre aspas porque grande parte da sociedade brasileira está se comportando como se esse caso fosse uma novidade — como se esse tipo de assunto nunca tivesse sido debatido antes. Quem não se lembra, recentemente, dos shows polêmicos de MC Pipokinha diante de crianças e adolescentes? E em 2017, o episódio no Museu de Arte Moderna, em que uma criança interagiu com um homem nu, foi tratado como arte, gerando um intenso debate no programa Encontro, no qual uma senhora conhecida como Dona Regina se posicionou contra a exposição de uma criança àquele tipo de atração. Imediatamente, atores presentes se manifestaram contra a opinião dela.
Portanto, não há motivo para surpresa. A coragem de Felca em denunciar tudo isso foi mais do que necessária, mas ele não é pioneiro nesse tipo de alerta. Veja, por exemplo, os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019: a experimentação de bebidas alcoólicas entre estudantes de 13 a 17 anos foi de 63,3%. A pesquisa também mostrou diferenças significativas entre os sexos: 66,9% das meninas já haviam experimentado álcool, contra 59,6% dos meninos — ou seja, as meninas estão significativamente mais expostas ao álcool.
Felca denunciou justamente a "adultização" e essa exposição precoce de adolescentes ao álcool. O Brasil precisa de políticas públicas sérias que protejam nossas crianças e adolescentes. Hoje, basta um menor de idade pegar o telefone e fazer um pedido de bebidas alcoólicas pelo WhatsApp, e um motoboy entrega na sua casa — porque, para muitas adegas, pouco importa se o pedido foi feito por um menor de idade.
Outro ponto importante é refletir sobre como a justiça no Brasil demora a agir. No entanto, quando o assunto ganha proporções na mídia, tudo parece funcionar em tempo recorde. Vimos Hytalo Santos e seu marido, Israel Vicente, serem presos poucos dias após a denúncia de Felca, que já somava mais de 42 milhões de visualizações e mais de 260 mil comentários. Vale lembrar que, desde 2024, Hytalo Santos já vinha sendo investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), mas só agora houve ação concreta por parte da Justiça.
Convido vocês a conhecerem o trabalho feito há anos por Guilherme Athayde Franco, Promotor de Justiça (MPSP), especialista em dependência química pela UNIAD/UNIFESP, associado da APMP e da ABEAD. Ele tem percorrido o Brasil justamente para tratar desses temas denunciados por Felca — ou seja, para dizer o óbvio: aquilo que está acontecendo diante dos nossos olhos e que não podemos normalizar.
Tive a oportunidade, no ano passado, de organizar um evento de combate às drogas e ao álcool com o Dr. Guilherme, e ficou evidente que nossas crianças precisam de famílias estruturadas, apoio emocional e instituições competentes que as eduquem da melhor maneira possível.
Agora, resta torcer para que influenciadores como Felca continuem usando seu alcance para denunciar outros problemas que assolam a população brasileira — quem sabe assim as autoridades se mexam com mais rapidez. Mas, enquanto isso não acontece, busque você mesmo a informação correta, para garantir que seu filho, neto, sobrinho ou irmão mais novo cresça em um ambiente seguro e bem protegido.
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