Recentemente, enquanto conversava com meu namorado nas nossas longas ligações de longo namoro à distância, começamos a discutir sobre quem seriam os ícones de beleza da nossa geração. Sim, depois de uma hora e meia de conversa a gente precisa começar a inventar assuntos.
Cara Delevingne. Kaya Scodelario. Ah, você lembra daquela It Girl do Tumblr, a Cory Kennedy? Nossa, ela ficou famosa por conta do Terry Richardson, o fotógrafo – que fim terrível que ele teve. Terry Richardson não, CobraSnake. E o Cobra Starship, você gostava? Tinha aquela música legal do 3Oh3!, você lembra? Ah, mas pra mim, definitivamente, a música que marcou aquela época e é atemporal é a “Hey There, Delilah”. Qual era a banda mesmo? Plain White T’s.
“Hey There, Delilah” é aquela música que você só sente. Uma voz, um violão, uma melodia melancólica, apaixonada, é quase como olhar pro céu a noite e se enebriar com as luzes da cidade. De Nova York, mais especificamente.
“Our friends would all make fun of us
And we'll just laugh along because
We know that none of them have felt this way
Delilah, I can promise you that by the time we get through
The world will never ever be the same, and you're to blame”
É que a música fala sobre essa cidade. É a história de um namoro à distância, ele na costa oeste dos Estados Unidos e ela na costa leste. Ele promete uma vida que eles merecem. Ele diz pra ela não sentir saudade. Diz que a Times Square não brilha tanto quanto ela.
Quando eu fui ler a letra, vi algumas notícias sobre a história por trás da música. Achei engraçado. A música que eu amo desde os 15 anos de idade fala por si só, não faz sentido uma história por trás, é essa a história: do Tom e da Delilah, que estão casados até hoje, com dois filhos, morando numa casa de cerca branca no meio dos Estados Unidos – sabe, nem pra lá nem pra cá.
Mas não era essa a história. E isso me encantou mais do que se tivesse sido, porque é terrivelmente real. Adulta. E quase sem graça.
O Tom conheceu a Delilah por algum amigo em comum. Ele achou que ela era a garota mais linda que já conheceu. Era corria na faculdade, 3.000 mil metros. Ele deu em cima dela, claro, e ela nem ligou. E então ele disse: “eu vou escrever uma música pra você”. E nunca escreveu. E eles não ficaram. E ela voltou pra Nova York.
A vida. A distância. As coisas acontecendo.
Mas eles continuaram se falando online e ela cobrava a música. “Cadê a música que você disse que ia escrever pra mim?” Então o Tom foi pra Nova York e pensou que tinha que mostrar uma música pra Delilah e então ele escreveu a música que dá título a essa crônica (aqui tá traduzido, é claro) e que é, como eu disse, um clássico atemporal da minha geração – os jovens emos de 2008. Ele mostrou pra ela a gravação, provavelmente num CD – como a gente fazia em 2005 mais ou menos. Ela amou. Mas ela tinha um namorado e é claro que ele não era o Tom.
O Plain White T’s gravou a música. Foi um sucesso. Alcançou o topo da Billboard, derrubando “Umbrella” de Rihanna e Jay-Z. Foi indicada ao Grammy de música do ano em 2008.
E eles nunca se beijaram.
Tudo isso sobre um amor que nem existe.
O Tom acabou chamando a Delilah pra ir como convidada dele no Grammy e os dois estavam solteiros na época, mas ela acabou voltando pro ex e ele arranjou outra mulher (a parte dele ter arranjado outra mulher eu inventei, porque meu Deus, depois de tudo isso ele merece ser feliz).
E eu fiquei apavorada. E encantada. Pensando sobre a minha geração e os planos que fizemos que talvez não se realizem por conta da pós pandemia. Pensando em sonhos e como eles movem a gente - mas como a realidade pode ser fria e sem graça. Como, talvez, a história por trás da história seja mais interessante mesmo e que bom que o Tom conheceu a Delilah e fez essa música incrível que embalou muitos amores por aí.
“A thousand miles seems pretty far
But they've got planes and trains and cars
I'd walk to you if I had no other way”
No fim das contas, essa música embalou a nossa noite e o nosso sono. E por um breve momento bom saber que alguém se sentiu do mesmo jeito que a gente se sente – mesmo que não tenha sido totalmente real.
Afinal de contas, é pra isso que serve a arte, né?
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