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Quinta-feira, 13 de Novembro de 2025
E aí, Delilah, a nostalgia é poderosa, né?

Amara Hartmann

E aí, Delilah, a nostalgia é poderosa, né?

A história por trás da música que, talvez, nos ensine mais que a própria música

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Recentemente, enquanto conversava com meu namorado nas nossas longas ligações de longo namoro à distância, começamos a discutir sobre quem seriam os ícones de beleza da nossa geração. Sim, depois de uma hora e meia de conversa a gente precisa começar a inventar assuntos.

Cara Delevingne. Kaya Scodelario. Ah, você lembra daquela It Girl do Tumblr, a Cory Kennedy? Nossa, ela ficou famosa por conta do Terry Richardson, o fotógrafo – que fim terrível que ele teve. Terry Richardson não, CobraSnake. E o Cobra Starship, você gostava? Tinha aquela música legal do 3Oh3!, você lembra? Ah, mas pra mim, definitivamente, a música que marcou aquela época e é atemporal é a “Hey There, Delilah”. Qual era a banda mesmo? Plain White T’s.

“Hey There, Delilah” é aquela música que você só sente. Uma voz, um violão, uma melodia melancólica, apaixonada, é quase como olhar pro céu a noite e se enebriar com as luzes da cidade. De Nova York, mais especificamente.

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“Our friends would all make fun of us
And we'll just laugh along because
We know that none of them have felt this way
Delilah, I can promise you that by the time we get through
The world will never ever be the same, and you're to blame”

É que a música fala sobre essa cidade. É a história de um namoro à distância, ele na costa oeste dos Estados Unidos e ela na costa leste. Ele promete uma vida que eles merecem. Ele diz pra ela não sentir saudade. Diz que a Times Square não brilha tanto quanto ela.

Quando eu fui ler a letra, vi algumas notícias sobre a história por trás da música. Achei engraçado. A música que eu amo desde os 15 anos de idade fala por si só, não faz sentido uma história por trás, é essa a história: do Tom e da Delilah, que estão casados até hoje, com dois filhos, morando numa casa de cerca branca no meio dos Estados Unidos – sabe, nem pra lá nem pra cá.

Mas não era essa a história. E isso me encantou mais do que se tivesse sido, porque é terrivelmente real. Adulta. E quase sem graça.

O Tom conheceu a Delilah por algum amigo em comum. Ele achou que ela era a garota mais linda que já conheceu. Era corria na faculdade, 3.000 mil metros. Ele deu em cima dela, claro, e ela nem ligou. E então ele disse: “eu vou escrever uma música pra você”. E nunca escreveu. E eles não ficaram. E ela voltou pra Nova York.

A vida. A distância. As coisas acontecendo.

Mas eles continuaram se falando online e ela cobrava a música. “Cadê a música que você disse que ia escrever pra mim?” Então o Tom foi pra Nova York e pensou que tinha que mostrar uma música pra Delilah e então ele escreveu a música que dá título a essa crônica (aqui tá traduzido, é claro) e que é, como eu disse, um clássico atemporal da minha geração – os jovens emos de 2008. Ele mostrou pra ela a gravação, provavelmente num CD – como a gente fazia em 2005 mais ou menos. Ela amou. Mas ela tinha um namorado e é claro que ele não era o Tom.

O Plain White T’s gravou a música. Foi um sucesso. Alcançou o topo da Billboard, derrubando “Umbrella” de Rihanna e Jay-Z. Foi indicada ao Grammy de música do ano em 2008.

E eles nunca se beijaram.

Tudo isso sobre um amor que nem existe.

O Tom acabou chamando a Delilah pra ir como convidada dele no Grammy e os dois estavam solteiros na época, mas ela acabou voltando pro ex e ele arranjou outra mulher (a parte dele ter arranjado outra mulher eu inventei, porque meu Deus, depois de tudo isso ele merece ser feliz).

E eu fiquei apavorada. E encantada. Pensando sobre a minha geração e os planos que fizemos que talvez não se realizem por conta da pós pandemia. Pensando em sonhos e como eles movem a gente - mas como a realidade pode ser fria e sem graça. Como, talvez, a história por trás da história seja mais interessante mesmo e que bom que o Tom conheceu a Delilah e fez essa música incrível que embalou muitos amores por aí.

“A thousand miles seems pretty far
But they've got planes and trains and cars
I'd walk to you if I had no other way”

No fim das contas, essa música embalou a nossa noite e o nosso sono. E por um breve momento bom saber que alguém se sentiu do mesmo jeito que a gente se sente – mesmo que não tenha sido totalmente real.

Afinal de contas, é pra isso que serve a arte, né?

 

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Amara Hartmann

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Amara Hartmann

Atriz, autora, produtora cultural cofundadora da Romã Atômica e apresentadora do Besouro Literário.

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