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Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2025
Clarice Lispector

Yasmin Malaquias

Clarice Lispector

A cronista

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Nascida Chaya Pinkhasivna Lispector, na aldeia de Tchetchelnik, então pertencente à Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, Clarice se tornou uma das maiores autoras do século XX e marcou a literatura com sua maneira única de ver e escrever o mundo. Dedicou-se à prosa, escreveu romances, novelas e contos, mas o que quero destacar neste texto são suas crônicas — um gênero que hoje não é vivido com a mesma intensidade de outrora.

Com raízes na palavra grega khrónos, que significa tempo, a crônica se ocupa do cotidiano e está intimamente ligada à sua contemporaneidade. É um texto curto, muito associado à publicação em grandes veículos de comunicação, como os jornais — e esse foi o caso de Clarice. Após se separar do diplomata Maury Gurgel Valente, ela precisou encontrar seus próprios meios de sobrevivência, e contribuir semanalmente com textos para o Jornal do Brasil foi uma dessas formas, embora não gostasse muito da ideia de escrever por dinheiro.

Uma das minhas crônicas favoritas é “Banhos de Mar”, em que ela narra um costume de sua família durante a vida em Olinda, no Recife. Antes mesmo das cinco horas da manhã, eles tomavam o bonde para ir à praia:

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“O cheiro do mar me invadia e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum, com o sol se levantando pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão emocionada que não consigo escrever.”

 

A crônica também pode se centrar nas memórias do autor, como Clarice nos mostra nesse delicado excerto de “Medo da eternidade”, em que narra a primeira vez que mascou chiclete:

 

“Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade, eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.”

 

Muitos acham que, para começar a ler Clarice, o melhor caminho é A Hora da Estrela, seu livro mais famoso. Mas talvez suas crônicas — hoje, em grande parte, disponíveis no Portal da Crônica Brasileira, mantido pelo Instituto Moreira Salles — sejam uma porta ainda mais delicada de entrada. O professor Antonio Candido diz que a crônica, “em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas”. E talvez seja por aí, minha leitora, que você se apaixone por Clarice como eu me apaixonei.

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Yasmin Malaquias

Publicado por:

Yasmin Malaquias

É estudante de Letras da FFLCH-USP e dedica-se ao estudo e à produção de literatura

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