Nesse dia 20 de Novembro, com tantos assuntos que eu poderia trazer, escolhi falar sobre literatura de autoria feminina negra. O ato de escrever e o direito à Literatura sempre foram restringidos aos patriarcas burgueses, de modo que, quem não pertencia a essa classe, foi impedido de ler e escrever. Quando essas pessoas excluídas tomaram posse da Literatura, os espaços para publicação e até mesmo no cânone (instituição imaterial que seleciona os livros considerados bons), foram restringidos, impedindo que essa linguagem da arte fosse plural, constituída de diversas vozes.
Logo, ler livros de autores e autoras dissidentes é rejeitar também a estrutura desigual da sociedade, a qual se expressa na Literatura. Além disso, que é um gesto político e importante, esses textos possuem qualidade formal e narrativa que foram negligenciadas pelos espaços literários de prestígio – então, o entretenimento também é garantido.
- Úrsula (1859): único livro ficcional completo de Maria Firmina dos Reis, primeira mulher negra a publicar um romance no Brasil. Por meio da história de Úrsula, a autora trata sobre a escravidão, a condição feminina e a loucura. Por meio de uma narrativa envolvente, a autora tornou-se pioneira ao dar espaço no meio literário para fala de personagens escravizadas, cujo papel foi, por muito tempo, de submissão.
- Quarto de despejo (1960): diário autobiográfico de Carolina Maria de Jesus, escritora mineira que viveu na cidade de São Paulo. Nele, a autora relata a intimidade que teve com a fome, mazela persistente na sociedade. O livro não só foi traduzido para diversos países, como também mudou a vida que Carolina, que é hoje um ícone da literatura de autoria negra.
- Poemas de Recordação e Outros Movimentos (2008): único livro de poesia da autora Conceição Evaristo. A poeta, escritora, professora e ativista do movimento negro retoma sua ancestralidade por meio de versos livres e brancos. Ao mesmo tempo, ela crítica os problemas vividos pela população negra hoje.
Em um país onde os índices de analfabetismo são assustadores, ler parece um privilégio e ser lido, uma conquista inalcançável, especialmente aos corpos femininos e/ou negros. Assim, quando for pegar um livro na biblioteca, questione quem são os autores que você lê: qual foi a última mulher que você leu? há quanto tempo você não lê uma obra brasileira? você já leu algum/a autor/a negro/a? Dessa maneira, nós, leitores, podemos pouco a pouco tornar a Literatura um lugar mais democrático.
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