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Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2025
Tarsila do Amaral

Yasmin Malaquias

Tarsila do Amaral

Uma caipirinha à francesa

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Poucos artistas representam tão bem o Brasil quanto Tarsila do Amaral. Ainda assim, sua arte nasceu do encontro entre o interior paulista e Paris, como nos mostra o quadro “Autorretrato ou Le manteau rouge” (1923), que acompanha este texto. Ele representa Tarsila do Amaral com um casaco vermelho sob o fundo azul, cores que se refletem em seus olhos. A escolha da pintora não é por acaso: reflete seu amor pela França, país em que morou durante muitos anos de sua vida e onde formou grande parte de sua identidade artística. Nascida em Capivari, Tarsila ficou conhecida no movimento modernista como “caipirinha”, algo que se refletiu intensamente em sua produção.

Seus primeiros desenhos, ainda na infância, retratam as paisagens do interior paulista, importante espaço da economia brasileira no século XIX. Neta de um grande cafeicultor, Tarsila recebeu uma educação excelente para os padrões da época e fortemente voltada para a cultura europeia: aprendeu francês, piano e pintura. Munida desse conhecimento, viajou para a França para aprofundar seus estudos em artes plásticas e realizou exposições importantes no país, enquanto, no Brasil, ocorria a marcante Semana de Arte Moderna de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo.

Com influências do cubismo, Tarsila absorveu diversas vanguardas europeias e as incorporou em sua obra, o que a tornou um dos maiores nomes do Modernismo brasileiro, com reconhecimento também no exterior. Um aspecto que muitas vezes passa despercebido em sua trajetória é o seu (breve) apagamento da história. Ainda em vida, passou por dificuldades financeiras e de saúde, sendo relegada, por um período, aos porões da arte brasileira. Esse cenário só começou a se reverter graças ao esforço de sua biógrafa, Aracy Amaral.

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Um fato curioso de sua biografia é a popularização da bebida caipirinha na França e nos círculos artísticos paulistanos. Apesar da origem incerta do drink, uma das hipóteses é que ele tenha surgido no interior de São Paulo como forma de combate à gripe espanhola, no início do século XX. Isso pode explicar o valor afetivo da bebida para Tarsila, que costumava oferecê-la, feita de limão, açúcar e cachaça, a seus amigos e convidados europeus e paulistanos.

A historiadora Mary Del Priore define sua vida como “doce-amarga”. Doce, por tudo o que ela vivenciou: a arte, Paris no século XX e sua importância no círculo do Modernismo brasileiro. Amarga porque ficou esquecida durante muito tempo, o que não ocorreu com outros artistas, especialmente homens. Hoje, porém, a contribuição de Tarsila do Amaral é incontornável quando se fala nas artes plásticas brasileiras e, sobretudo, em sua projeção internacional, que abriu caminho para o reconhecimento do Brasil como produtor de sua própria identidade cultural.

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Yasmin Malaquias

Publicado por:

Yasmin Malaquias

É estudante de Letras da FFLCH-USP e dedica-se ao estudo e à produção de literatura

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