Você já viu seus pais ou avós olhando uma foto antiga e dizendo com um sorriso: "bons tempos"? Ou talvez você mesmo já sentiu uma alegria quentinha ao ouvir a música de abertura de um desenho que via quando era menor. Esse sentimento tem um nome: nostalgia. É como ter uma pequena máquina do tempo dentro da gente que nos leva de volta para momentos felizes.
Mas essa "viagem no tempo" não é só uma lembrança boba. Hoje, ela está em todo lugar e virou algo muito poderoso, que influencia o que a gente compra, como a gente se sente e até como fazemos amigos.
Olhe ao redor. A onipresença do passado no presente é inegável e estrategicamente calculada. O sucesso estrondoso de séries como Stranger Things não se deve apenas ao seu enredo, mas à sua capacidade de recriar a estética dos anos 80 com uma precisão quase documental, ativando a memória afetiva de uma geração inteira. No cinema, reboots, sequências tardias e remakes são a aposta segura dos estúdios. Por quê? Porque vendem mais do que um filme; vendem um reencontro, a chance de reviver a magia da primeira vez.
E as empresas e quem trabalha com marketing perceberam que essa saudade dá dinheiro. E muito! Por que criar um personagem novo se eles podem trazer de volta um que todo mundo já ama? É por isso que vemos o cinema relançando filmes como "O Rei Leão" com computação gráfica ou fazendo novas aventuras da "Turma da Mônica".
Este fenômeno transborda para o consumo de forma explícita. Marcas relançam produtos com embalagens retrô, grifes de luxo resgatam a moda dos anos 90 e Y2K, e o vinil, um formato que deveria ter sido aniquilado pela era digital, vive um renascimento vigoroso.
Isso também acontece nas prateleiras do mercado. Às vezes, uma marca relança um biscoito ou um chocolate com a mesma embalagem de 20 anos atrás, como o chocolate Surpresa que vinha com cards de dinossauros.
A lógica é simples: o consumidor não está apenas comprando um tênis, um refrigerante ou um disco. Ele está comprando um pedaço da sua própria história, um atestado de pertencimento a uma época que, em sua memória, parece mais simples e acolhedora. Funciona com roupas, com tênis e até com videogames, como os mini-consoles que vêm com jogos clássicos, tipo Super Mario e Sonic.
Se o marketing usa a nostalgia, é porque ela mexe com o nosso comportamento. Por que gostamos tanto disso? Psicólogos dizem que, em um mundo que muda o tempo todo, com muita informação e às vezes muita preocupação, lembrar do passado é como receber um abraço quentinho. É um lugar seguro. O passado já aconteceu, a gente sabe como termina e, na nossa memória, ele parece mais simples e feliz.
Isso explica por que muita gente volta a usar roupas que eram moda nos anos 80 ou 90. Ou por que pais e mães fazem questão de mostrar para os filhos os filmes e desenhos que eles amavam, como "Caverna do Dragão" ou "Dragon Ball Z". É uma forma de compartilhar um pedaço seguro e feliz da sua própria vida com quem você ama.
A sociologia explica: o clube da saudade
A sociologia, que estuda como vivemos em grupo, mostra que a nostalgia é coletiva. Maurice Halbwachs dizia que a memória é social: a gente não lembra sozinho, lembra em comunidade. É por isso que, quando um jingle antigo reaparece ou quando um trecho de programa vira meme, tanta gente se reconhece na mesma lembrança.
É aqui que a nostalgia revela sua função mais profunda: a de catalisador social. Em um mundo cada vez mais polarizado e digitalmente fragmentado, onde algoritmos nos confinam em bolhas de opinião, a cultura do passado emerge como um território neutro, um ponto de encontro.
É como se todos que assistiram a Chaves, colecionaram tazos ou jogaram Pokémon no Game Boy fizessem parte de um clube secreto. Encontrar alguém que compartilha essa lembrança cria conexão imediata. Em um mundo onde muitas vezes nos sentimos isolados, esse “clube da saudade” nos lembra que pertencemos a algo maior.
É uma linguagem secreta que dispensa tradução, um código compartilhado que gera empatia imediata. “Você também lembra disso?” é o convite para uma conexão genuína, uma pequena celebração de uma identidade coletiva que resiste ao tempo.
Mas esse processo vai além de quem viveu aquele tempo. Na Coreia do Sul, existe até o termo newtro para explicar quando jovens que nunca conheceram os anos 80 ou 90 adotam a estética daquela época como novidade. O passado reaparece reinterpretado, misturado ao presente.
No final, amar as coisas antigas é muito mais do que sentir falta do que passou. É uma forma que as empresas usam para vender sentimentos, um jeito que a gente encontra para se sentir mais seguro e, o mais importante, uma ferramenta incrível para criar laços com outras pessoas.
Quando músicas, filmes, brinquedos ou roupas antigas voltam, o que retorna não é só o objeto: é a memória de quem fomos, é o elo que criamos com os outros e é a certeza de que há continuidade mesmo em tempos de tanta mudança. Gostar das coisas antigas é, no fundo, uma maneira de dar sentido ao presente.
E agora, que tal ativar a sua própria máquina do tempo?
Pense naquela música, naquele filme ou naquela brincadeira que marcou sua vida. Aproveite para compartilhar este texto com aquele amigo ou familiar que viveu tudo isso com você. E me conte nos comentários: se você pudesse trazer uma única coisa do passado de volta, o que seria?
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