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Quarta-feira, 12 de Novembro de 2025
Fantasma Digital: Como a Internet Nos Mantém Vivos (Mesmo Depois de Morrer)

Tharsila Lourenço

Fantasma Digital: Como a Internet Nos Mantém Vivos (Mesmo Depois de Morrer)

Curtidas póstumas, mensagens sem resposta e aniversários eternos — como lidamos com a morte no mundo virtual?

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Outro dia, o Facebook me lembrou de um aniversário. Mas não era qualquer aniversário — era o do meu marido, Ele se foi há nove anos, mas para as redes sociais, ele ainda está aqui. O algoritmo não entende a morte, só entende engajamento.

Isso me fez pensar: o que acontece com nossos perfis quando morremos? No mundo físico, há despedidas, rituais, luto. No digital, continuamos existindo em notificações, fotos antigas, mensagens que nunca terão resposta. Viramos uma espécie de fantasma binário, assombrando timelines alheias sem querer.

O mais curioso é como as redes nos oferecem opções para lidar com isso. Você pode transformar um perfil em memorial, criar uma pessoa de confiança para administrar sua presença pós-vida digital. Basicamente, agora precisamos de testamento para nossos posts.

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Há nove anos eu escrevo cartas para o falecido, é mais sobre eu lidando com meu luto e transformando ele em algo que eu ame — que é escrever — do que sobre uma tentativa de comunicação. Anualmente também pessoas ainda parabenizam ele em aniversários, alguns aproveitam para deixar mensagem de saudades em posts no perfil fantasma dele, ou nas minhas publicações.

Às vezes, me pergunto se essa presença digital eterna é um conforto ou uma tortura sutil. Por um lado, gosto de saber que ainda há rastros dele por aí, como se o tempo não tivesse apagado tudo. Por outro, é estranho ver uma rede social sugerindo que eu marque ele em uma foto ou que reaja a um post antigo, como se a ausência fosse só uma questão de falta de atividade online.

A internet nunca aprendeu a lidar com a morte. Plataformas tratam tudo como um grande arquivo onde nada some de verdade — só cai no esquecimento do feed. Mas a gente não esquece. Nunca. E talvez seja por isso que esses ecos digitais mexem tanto com a gente. Porque, de alguma forma, eles reafirmam que alguém esteve aqui.

Talvez a pergunta não seja “o que acontece com nossos perfis quando morremos?”, mas sim: o que queremos que aconteça? Queremos ser lembrados por notificações automáticas ou pelas histórias que deixamos? Queremos que um algoritmo decida quando e como nossa memória aparece, ou que o luto siga seu próprio tempo e espaço?

Eu ainda escrevo para ele, porque escrever sempre foi meu jeito de existir e sentir. Mas sei que as palavras que importam não estão no feed, e sim no que ficou em mim — e naqueles que continuam lembrando, não porque um lembrete apareceu, mas porque o amor nunca foi um dado que pode ser arquivado.

E você, já pensou no seu legado digital? Ou vai deixar o algoritmo decidir?

FONTE/CRÉDITOS (IMAGEM DE CAPA): Internet
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Tharsila Lourenço

Publicado por:

Tharsila Lourenço

Mãe, comunicadora social e empreendedora, uma mente inquieta que transforma os dilemas da vida em reflexões

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